Segunda-feira, 19 de Fevereiro de 2007
.Nascem no céu
As cores frescas e matinais
De propósitos infimamente surreais
Nasce a luz
E com ela nasço eu
Mais uma vez
Rumo à morte
Toldo-me pelas ruas da cidade
Na minha solidão
Na minha inteira solidão
Há na manhã
O cheiro que só a luz tem
Um cheiro redentor
Solução feita de cor
Às vezes de uma luminosidade dissolvida em dor
Na melhor vista da cidade
Olho-a perdendo-me em ti
Penso naquilo que te diria
Extingo-me na luz com que te tocaria
Sorrio
Nas lágrimas que a luz me provoca.
Terça-feira, 13 de Fevereiro de 2007
.Mais um corte
De perfeito recorte
Efectuado na lucidez da escuridão
Mais um dia
De um silêncio cortante
De personalidade dilacerante
Olho me ao espelho
Vejo o cadáver de mim
Retalhado selvaticamente
Com um ou outro corte cirúrgico ornamental
A morte é tão real
Perco-me
Por te perder a ti
Perco-me e quase que me encontro na morte
Para a seguir me perder na vida
Olho-te
És tão linda
Tão surreal
Fecho os olhos
Numa sala com facas e lâminas
Trancadas em cofres impenetráveis
Fecho-me em mim
Perco-me em ti
Amanhã tenho mais um dia para morrer.
música: "(The) Darkening" dos Moonspell
Domingo, 28 de Janeiro de 2007
.Espinhos a espetarem-me a carne
Dor na ausência de tua face
Face que encontro aqui
Acolá
Na noite
Num bar
Na distância
Num terror alcoólico vi-te
Bela com cara de anjo
Tenho braços curtos para te abraçar
Tenho amor que chegue para te condenar
Numa noite
Nas noites
Para sempre
Choro o veneno que bebo
Aquele que te dei a beber
Regresso ao inferno
Não estás
Para me abraçar
Para me condenar
Cura-me
No seio de tuas entranhas
Na fluida arte de amar
Envenena-me
Leva-me ao sul.
Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2007
.Sei ler em meu olhar
Que chegou o fim
Sei que nunca te vou poder tocar
Porque há morte e mais morte entre nós
Uma morte de recorte peculiar
Feita de distâncias
De ânsias
De fantasmas outonais
Sentir-te e não te poder tocar
Sentir que o amor não chega
Para mudar o mundo
Para te provar não sei o quê
És feliz
Serás feliz
Pergunta ou afirmação
Cósmica maldição
Acreditas nos meus olhos
Naqueles que te recusas a fitar
Acreditas nas minhas palavras
Na sua verdade subliminar
Acreditas
Tens esperança
Eu não
A esperança é uma medida do fracasso
Tens medo
Sofres
Eu não
Eu não tenho coração
O coração está num caixão
Acabei de o enterrar
Não te consigo odiar
Talvez seja maldição amar
Amei-te fatalmente
Amei-te de uma maneira que não se deve amar
Isso não chega
Sabes
O amor é uma treta
Este poema é presunçoso
É ridículo e sem qualidade
Quando o amor não chega
Para te mudar
Como poderá mudar o mundo.
Quinta-feira, 11 de Janeiro de 2007
.Luz que finda
Luz que escorre pela noite dentro
Ausência de luz
Que ilumina o que era velado
Que escurece a dor que há em mim
Escuridão
Feita tonalidade da dor
Escuridão que irrompe pelo meu rosto
Danação e fatalismo
Tristeza tua tornada minha
Lágrimas tuas a correrem-me pelo sangue
Soluços teus a ecoarem sobre os gritos da noite
Caminhos ínvios do sofrimento
Que eu percorro contigo
Próximos na dor
Naquela dor que rima com amor.