Domingo, 28 de Janeiro de 2007
.Espinhos a espetarem-me a carne
Dor na ausência de tua face
Face que encontro aqui
Acolá
Na noite
Num bar
Na distância
Num terror alcoólico vi-te
Bela com cara de anjo
Tenho braços curtos para te abraçar
Tenho amor que chegue para te condenar
Numa noite
Nas noites
Para sempre
Choro o veneno que bebo
Aquele que te dei a beber
Regresso ao inferno
Não estás
Para me abraçar
Para me condenar
Cura-me
No seio de tuas entranhas
Na fluida arte de amar
Envenena-me
Leva-me ao sul.
Sexta-feira, 26 de Janeiro de 2007
.Sei ler em meu olhar
Que chegou o fim
Sei que nunca te vou poder tocar
Porque há morte e mais morte entre nós
Uma morte de recorte peculiar
Feita de distâncias
De ânsias
De fantasmas outonais
Sentir-te e não te poder tocar
Sentir que o amor não chega
Para mudar o mundo
Para te provar não sei o quê
És feliz
Serás feliz
Pergunta ou afirmação
Cósmica maldição
Acreditas nos meus olhos
Naqueles que te recusas a fitar
Acreditas nas minhas palavras
Na sua verdade subliminar
Acreditas
Tens esperança
Eu não
A esperança é uma medida do fracasso
Tens medo
Sofres
Eu não
Eu não tenho coração
O coração está num caixão
Acabei de o enterrar
Não te consigo odiar
Talvez seja maldição amar
Amei-te fatalmente
Amei-te de uma maneira que não se deve amar
Isso não chega
Sabes
O amor é uma treta
Este poema é presunçoso
É ridículo e sem qualidade
Quando o amor não chega
Para te mudar
Como poderá mudar o mundo.
Quarta-feira, 17 de Janeiro de 2007
.Brota a morte de tuas entranhas
Brotam flores mortas
Apodrecidas pela vida
Esplendorosas na morte
Eu assisto
Na calma de mais um trago de abscinto
Ao apodrecer teu
Somos
Carne quente
Sangue corrente
Ossos
Somos o final em si mesmo
A vida temporariamente roubada à morte
Eu apodreço em mais um trago de abscinto
O sangue já não o sinto
O ossário forrado a carne é meramente ornamental
Queres ser a terra que devora a minha podridão
Feita de carne
Ossos
Sangue.
A ti meu oriente situado a sul,
A ti minha sulista maneira de encarar a morte:
.Face cortada pelas lágrimas
Com a beleza de outrora agora
Mesmo assim
Princesa de um reino
Perdido na geografia
Encontrado pela sua peculiar geometria
Mundo de cristal
Morte dual
Nos rios que te correm dos olhos
Brota um Vírus
Dual
Fatal
Singular
No paraíso de tuas entranhas
Teu coração bombeia o vírus
Pelos teus rios e mares de sangue
Vírus Fatal
Dual
Feito de cristal.
Terça-feira, 16 de Janeiro de 2007
A ti meu oriente situado a sul,
A ti minha sulista maneira de encarar a morte:
.Sopra as tuas palavras de cristal
Não deixes a morte falar
Sussurra por entre a dor
As tuas lágrimas feitas palavras
Dá-me um relance do teu olhar prata
Aquele que apaixona e mata
Dá-me o beijo fatal
Mortal
Que esteticamente nunca fica mal
Ensina a vida a meu corpo amortalhado
Troquemos de corpos
Perspectiva (mente)
Ritualmente num rito despido de regras
Cai a maldição diurna
Princesa do oriente perdido
E achado a sul
No sul onde a morte é mais morte
No sul que não posso almejar
No sul que apenas posso olhar com meu perdido olhar.
A ti meu oriente situado a sul,
A ti que te perdi antes de te encontrar.