Sexta-feira, 13 de Setembro de 2024

O chão que tu pisas

.O chão que tu pisas

Que semeias a cada passo teu

Com a doçura do teu perecer

 

As folhas caídas 

Que esmago a cada passo meu

Laivos de vida a fenecer

 

Tu, meu Outono a desabrochar

Bando de borboletas a florir

 

Eu, um inverno por findar

Bosque de crisálidas a carpir

 

Eis

[O] crepúsculo que deságua

Orvalho salgado por condensar

 

A seiva amarga

Que jaz podre dentro de mim

Não mata a minha sede por escuridão 

Que este teu chão seja o meu caixão.


publicado por Buraco Negro às 19:28
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Sábado, 22 de Outubro de 2022

Eis o homem

.Eis o homem

 

Prostrado e derrotado 

No silêncio onde se dilui o clamor 

Escavo por entre o caos amarrotado

Semeado por folhas sem fim

 

Anseio beber o ar límpido das manhãs 

Embriagar-me com o suor do mar

Escavar, semear e, por fim, definhar

 

Eis-me

Sangue atormentado

Ao vento semeado

 

Eis a mentira podre

Que usava para te confortar

Fruto conspícuo

Que me está a envenenar

 

Eis-nos

Confinados numa prisão de carne

Almas cândidas (que)

Pó se irão tornar

 

Vê, eis o fim

Como é bela a escuridão em ebulição.


publicado por Buraco Negro às 11:43
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Quarta-feira, 20 de Julho de 2022

Carne

. Esta noite, só esta noite 

Vou regressar aos restos de ti

Fecho os olhos e consigo

Cheirar o verde esmeralda

 

Arrumar o caos que há em mim

Soprar o pó que me preenche as entranhas

 

Escuto a alva música que esqueci

Como tenho estado absorto

Estático, amnésico e morto

 

Memórias que esqueci

De cegueira anos padeci

Frio e sozinho

Perdido sem achar caminho

 

Longe de mim

Mal consigo respirar

Nesta prisão 

Nestas paredes sem significado

 

Piso a terra húmida 

Respiro a inocência da alvorada

Fenece por fim a carne conspurcada. 


publicado por Buraco Negro às 01:37
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Quarta-feira, 17 de Abril de 2019

Mater

.Eis-me a desaguar

A verter o teu último olhar

Contigo algures a cintilar

 

Cinzas

A pulsar no céu

Inocente fogo que nasce para cessar

 

Procuro-te, perdendo-me nas ruas desta cidade

Quero o teu útimo olhar

A mentira ou a verdade 

Algo que me faça serenar

Não quero ver o alvorecer da fealdade

 

Como arde

A borboleta que me consome 

Como é doce

O sabor do mel a definhar

 

A tua mão outrora foi minha 

Estou só nesta viagem

Calor que ora aquece ora definha

 

Ritmado, dolente e  resignado

Apenas a dor quero fruir 

Engolir um cardo espinhoso a florir.


publicado por Buraco Negro às 01:25
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Segunda-feira, 20 de Novembro de 2017

E

.Quando o sol se põe

Fecho os olhos para te encontrar

Escorrer até desaguar talvez no teu olhar 

 

O sal que perdura

O sal que abre as feridas 

Que as carcome e enche de luz e memórias

 

Rosa-dos-ventos sanguinária e afiada 

Que abre caminho através pela carne rumo aos ossos 

Às pedras que nos compõe

 

Sobre ti repousa um véu de cinza sepulcral

Brota do chão uma frondosa rosa bordada pela solidão.


publicado por Buraco Negro às 00:04
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