Domingo, 22 de Junho de 2008

No fundo da garrafa

.No fundo da garrafa
Dormem partículas de sonhos dispersos
Conservados num licor que escorre dolorosamente para os copos
Sequiosos de sofrimento

Nas tuas asas quero voar
Aturdido e perdido sem esperança de uma salvação
Que não procuro
Que me apraz recusar

Dai-me a beber aquilo que me é doce
Mesmo que tenha a cor da amargura
Dai-me o veneno dos séculos
Adormecidos numa garrafa
Maturados para lá da podridão

Tenho medo de regressar a mim
De estremecer e acordar o sono que em ti se deleita
Um sono licoroso e pesaroso a reverberar canções feridas
Xaradas metafísicas e quânticas que nunca saberei responder

Ilhas espoletadas num cortinado azul
Ilhas que são estrelas
Que afinal são pedacinhos de luz num pulsar enevoado
Ditirambos num ressoar trágico inauguram lugares da mente que desconheço
Uma batalha de cócegas que não sabem se são partículas ou ondas

Sangue venoso acariciando uma pele
Que estala como folhas de Outono
Sangue a sequioso de um copo de vida
Abandonado num corpo que se transforma em pó pelo lado dos ossos

A força das copulações
Encravada rosto
Semeada  esperança numa pegajosa ejaculação
Dentro de um athanor de carne quente e rosada

Todo eu sou chamas
Recebidas no âmago de gotas de água redondas
Roubadas aos céus revoltos do início

Rasgo crateras nos céus do córtex
Em busca de caminhos pesarosos e dolorosos
Esgares lentos de salvação
Desejo absurdo pela danação

Nas arcadas do tempo consumido
Vive a criança opaca e feita de ossos brancos e dolorosos
Gostava de lá me sepultar
Incoerentemente desdenhar um abrigo
Que hoje sei está perdido.


publicado por Buraco Negro às 18:34
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Segunda-feira, 26 de Maio de 2008

Onde tudo é obscuro

.Acordo para a noite

Invadido pela cidade

De cruzes salinas sepultadas na escuridão

 

O arrepio frio da noite

Escorre pelas costas de uma mulher

Numa facada afiada pela vida

 

A quentura pálida da Lua

Engrandece a solidão que ressoa nos pilares que deixarão cair o mundo

Abandono-me a mim

Sussurrando passos e vultos pelos caminhos

Certeiros da perdição


Congratulo-me por no fim te perder

Entre beijos gretados por securas e amarguras

Entre promessas languidamente degustadas pelo tempo

 

Enfim só

Na mais suprema presença de mim

Descobrindo-me num espelho celestial

Um crescente de vida

Que se fina lá - onde tudo é obscuro.

música: "Becoming Light" dos Process of Guilt

publicado por Buraco Negro às 23:13
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Segunda-feira, 4 de Fevereiro de 2008

Os céus entornam-se sobre mim

.Os céus entornam-se sobre mim
Sangue adornado pela noite
Com os seus tumores luminescentes e foice alada

Dói-me a carne e tombo de lucidez

Cometas riscam a ardósia que é o céu
Lembrando-lhe a dor que é estar vivo.
música: "Sleeping Death" dos Forest of Shadows

publicado por Buraco Negro às 22:17
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Sábado, 19 de Janeiro de 2008

As sombras são um abrigo no interior de uma tempestade de luz

.Dias translúcidos

Pórticos entre noites adjacentes

Dias resumidos a sombras


As sombras são um abrigo no interior de uma tempestade de luz


As estrelas são o sal que purga o Universo

A Réstia de luz polvilhada pelos cosmos

Ergue o braço e escreve os teus sonhos num interstício nocturno

Sopra-os até às estrelas

Elas fá-los-ão ecoar a cada pulsar


Morrem as estrelas fica a sua luz

Morres e restam alguns sonhos

Talvez agora sejas um buraco que engole a luz

? Será que os buracos negros são assim tão negros

Na sua fome de luz

No seu sangue feito de sonhos derretidos.


publicado por Buraco Negro às 00:05
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Terça-feira, 27 de Novembro de 2007

Desapareço tornando-me subliminar

.Puxo de dentro de mim tudo aquilo que é frio

Expiro-o entregando-o ao frio que me acompanha ao longo do caminho

 

Por aí

Dando passos pesarosos em terrenos moles

Ocultos na escuridão oferecida pelo fim de tarde

 

Ao fundo das luzes, à direita da penumbra

Existem caminhos servidos sobre a terra

A mesma terra que sepulto por baixo do alcatrão

 

Piso a terra que amanhã aposto como perdida

Abafada e silenciada até gritar e libertar vagas telúricas

O eterno retorna ao primordial

 

Para lá vejo luzes

Pontes e estradas formando cruzes

Percorridas por luzes

De um amarelo retorcido e ruidoso

Perigoso e melindroso

 

Penso e invento um fim

Para cada pontinho de luz

Desço fundo até aos lamaçais de mim e afogo a esperança

Que se esconde entre os cabelos da cidade

 

Faltas-me e morres-me

Do princípio ao fim de cada segundo

 

Ventos petrificam a pele

Consolam-me esta solidão

Tão minha como tua, tão tangível como nua

 

Hoje pergunto-me quem sou

Não

Prefiro que guardes a resposta

Que a abandones e  deixes ser consumida por cada segundo até nada restar de mim

 

Perco-me enfim

Seguramente confuso e obtuso

Sento-me e contento-me com aquilo que me é dado a vislumbrar

Desapareço tornando-me subliminar.

música: "Echoes" dos Cult of Luna

publicado por Buraco Negro às 19:35
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