.No final da tua vida translúcida
Numa nudez crua a cheirar a vísceras
Escondes o medo
Enterrando-o num fotograma de cadáveres de ti
Medo nos olhos certeiros e resolvidos de um velho
Embevecidos pelo soro quente da amargura
Diluída esperança negada com candura
Coluna vertebral estacada nalgum jardim
Despida de qualquer fruto resoluto
Membranas doces e mastigáveis
Engolidas entre tragos ásperos de vida
Nos terríveis ângulos agudos
Percorridos na tua dança ungida
Da qual recordarei para sempre o vermelho ferido desenhado pelos teus pés
Dos cemitérios vítreos por baixo dos nossos pés
Nascem cidades feitas do sal que se desprende dos ossos
Cristal doce que eterniza a beleza de uma ferida
Escutei as tuas histórias de desespero
Lá dentro encontrei as minhas
Como um só ressoamos pelas entranhas sujas de uma garrafa
O vapor calou-se e nunca mais te encontrarei
No teu pedaço ínfame de céu
Pulsa com a devida lentidão um abismo
Que invejo e toco sempre que te beijo
Quero todas as tuas dores
A faiscar num circuito fechado
Uma dor que me queime a partir de dentro de mim.
Quero aspas orientadas segundo um ângulo favorável
Com uma fúria repetida a cravarem-se no sentido estrito do meu coração
Eis o teu medo
Pós-êxtase, degredo, folhas caídas e Novembro.
. Arranco à mais poderosa das noites
Desígnios esquecidos
Aperfeiçoados no esquecimento
De sentidos aguçados por um sono tumular
No íntimo de nós vibram cordas
Que recitam odes à destruição
Que nos fazem sufocar
Engolir pesarosamente golfadas de vida
[Deliciosamente perdida]
Caem oceanos do céu
As estrelas são um inferno que arde
Sublime congeminação
Panaceia para o mal por nós parido
Por entre impulsos eléctricos congemino o fim
Sabendo que não fui eu que o criei
O abismo metodicamente escavado
A mais irónica e sardónica sepultura
Ornamentada por flores espinhosas dispostas com candura.
.Musa eléctrica
Em pose tétrica
Céu flamejante
Que sorves delirante
Face Lunar
Fome de matar
Na falta da inspiração
Resta a mutilação
Ossos ao rubro
Incendeiam a carne
[Incineram o espírito]
Todo eu estremeço
Num sono inconstante
Numa loucura de quebradiços esteios
Invoco-te em soluços
De onde nascem chispas de sangue
Sangue venal
Tempestade intelectual
Tu serena estática
Fervente e dramática
Caixas com imagens
Caixas grávidas de caixas
Estendidas ao longo do cume do fim
Violentadas em acessos de loucura
Ardem casas
Crematório improvisado
Onde ardem pessoas
Até serem pó
Espalhado pelo universo
Sepultado pelas chuvas gravíticas
Irrompo por paredes
Pleura cerebral
Rasgadas a punhal
Numa loucura que perdura
Que estremece
Morrem as estrelas
Que gemiam outrora
Em orgasmos sardónicos
A constante cosmológica
Sofre de arrepios trémulos
Um séquito de legiões por debaixo da pele
Uma guerra interna e interestelar
Quero uma memória minha que possa moldar
Esculpir a cinzel num papel
Ruas sujas
Estradas devastadas
Prelúdios à solidão
Águas agitadas
Que me bebem
Num ofício triste
Rios distantes e odes a Novembro.
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