.Nos ventos que se desprendem
No lugar onde o cabeço penetra o céu
Viaja o perfume-fátuo de deuses
Entronizados por uma sábia forma de morte
Desce ao fundo de ti
Violenta tudo o que te resta
Despoja-te
[até ao limiar que para os outros seria morrer]
De encontro ao azul
Que jaz ao Sul.
.Nos ventos lentos
Que arrepiam a cidade
Viajam os pedaços últimos de ti
Perdidos e achados para sempre
No fim de tarde que se afasta
Respiro até ao fim partículas escassas de ti
Arrastando a tua morte até ao fundo da minha
Adivinho-te pelas estrelas
Imagino um sorriso, um abraço
Tão verdadeiros como a mentira de não os ter
Procuro cicatrizes profundas
Onde possa escrever a minha dor
Germinando-a no sangue que morre até ao coração.
.No momento denso
Em que repousa o fim
No instante último
Amarelado pelas memórias
Desprende-se um quebradiço pedaço de mim
Nessa noite
[Aquela em que sempre te conhecerei]
De flores de papel
Dissolvendo-se num fogo fátuo
As cordas que seguram as estrelas
Urdem um pesaroso lamento
Concebido na véspera de mim
Gostava de chorar como um rio
De na minha aflição beber a terra que te cobre
Extasiar-me de ti
Finalmente, finar-me docemente abraçado a ti.
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