Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2008

...

.Na gaveta dos sonhos

Com puxadores feitos de lâminas dispostas numa geometria defensiva

Nos olhos banhados por ventos ora salgados, ora ácidos

Que se condensam em lágrimas que jamais irás compreender


Mãos de Pai

Arrastadas por uma pele semeada de frio

Olhos de Mãe

Sepultados no brilho fátuo daquele olhar


Abraço escorreito e difuso

Mas apertado como jamais irás compreender


No jardim estéril que é o futuro

Nas palavras tuas decifradas por entre o silêncio

Num passado demasiado estreito para alcançar.


publicado por Buraco Negro às 23:39
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Domingo, 6 de Janeiro de 2008

Lodaçal

Dedicado a Luiz Pacheco, embora aposte que ele quer que eu me foda.


.[A] Escuridão escorrega dos céus de fim de tarde

Ruas presas ao anonimato repletas de um vazio construído de corpos desnutridos de sonhos

Ausência de ossos que sustentem a mais ínfima esperança

 

No panteão da vida a corrosão transforma memórias em pó espalhado-o aleatoriamente pelo vento

Acordas e nada resta de ti, nada te sustenta

 

Divago por encruzilhadas de ruas de uma forma confusamente desenvolta

Divago como se soubesse exactamente como me perder

 

Os candeeiros com a sua luz baça não passam de uma forma tétrica da luz

Escolho um canto recôndito para mijar

O mijo mistura-se com a réstia de chuva apodrecida pelo chão da cidade

Às tantas formam um pequeno lago deveras particular: detritos angustiados de mim  na sujidade bolorenta da cidade

 

Cuspo lantejoulas de sangue

Doem-me os pulmões, constantemente triturados por este ar indecoroso

 

À noite a cidade é a espasmos deliciosa

A solidão invade-a, o vento faz bailar pedacinhos de fuligem provenientes da combustão dos sonhos

Caminho-a para me esconder de mim, dos outros, sei lá do quê

Caminho mas não posso fugir ao lodo em que imprimo os passos, que me manipula os passos, que me prende

 

Árvores de princípio de Inverno ossos daquilo que foram na primavera

Penetram bem fundo no lodaçal que me sustenta

Aliás, alimentam-se e fodem com ele

Fodem que nem uns danados e provocam espasmos telúricos mesmo por baixo do lodaçal

[lençol]

 

Aqui estou eu sem nada e para nada

Ausente e não totalmente alheado

Amedrontado por viver

Tremem-me as pernas e quase me sucumbem as carnes

Sou

Quase prostrado

Mas não é desta que me deitarei na posição fetal neste chão, neste lodaçal.


publicado por Buraco Negro às 23:42
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Domingo, 30 de Dezembro de 2007

Ensaia a esperança com alguma fluidez

.Os céus, os milhares de céus que a ti se sobrepõe

Supra-situado corre um rio de sangue cósmico

Repositório de energias brutais capazes de te ferver o teu sangue

 

Imagina o sangue fervente a queimar-te por dentro adentro

Animado pelo coração dolente

Corre em ti o fogo que te consumirá a carne fraca e o mais sólido dos ossos

Existe uma fornalha em ti, alimentada e comandada durante instantes-luz

 

Nos silêncios que ousas ouves o rastejar da luz pelas frestas das portas do teu universo alternativo

Tomas algo, que nem sabes o quê, como perdido

Perscrutas o buraco negro que há em ti

[Para o caso de não existir inventas astutamente um]

Percebes como a vida pode ser vã e curvilínea

Como pode descrever circunferências que seguem o rasto de um qualquer abismo

Numa espiral que começa e acaba num inferno

[Algures entre uma miríade de infernos inventados, resta um mais sublime e perene]

 

Canto soltado pelo bailado das estrelas

Ignorado pelos teus ouvidos mas consolador para os outros sentidos

Sente e quase o podes ouvir

Sente-o e quase podes sorrir

Morres e continuará a existir

 

Abre as asas e sente o bulir dos ventos remotos gemendo pelos perfis alados

Voa para lá de ti e sonha

Sonhos que só tu podes sonhar

Que fluem e findam em ti e para ti

 

Ensaia a esperança com alguma fluidez

Em sentido estrito, em sentido lato

Fá-la rimar com algo abstracto

Mas agarra-la

[Com a tua mão abstracta]

Assim terás o substrato da esperança

Destila-o à custa do suor que te cruza a epiderme

Eis as tuas asas

Nascidas da mais pura Alquimia antropomórfica.


publicado por Buraco Negro às 02:03
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Sábado, 8 de Dezembro de 2007

Inventas a esperança

.Face estarrecida e embrutecida pela dor
Congeminada em universos feitos de tartarugas empilhadas

Riscas e contornas a dor pelos insterstícios do teu corpo
Sorris um  sorriso mal esboçado, mas suficientemente enganador
Perfumas o bafio pútrido que fabricas nas entranhas
Ergues a cabeça, espetada na estaca cervical

Afincas-te ao que te resta
Inventas a esperança
[Nunca deixas que a inventem por ti].
música: "Leave no Trace" dos Anathema

publicado por Buraco Negro às 12:14
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Quarta-feira, 18 de Abril de 2007

Esperança?

.Acordo na mais dolorosa das experiências
Olhos fitados numa luz que dói

Hoje não há cura
Que me valha
Morte: sou o cadáver  que há em mim

Quem sou eu
Que espelho é este onde vejo a minha caveira de metal retorcido
Que vida esta com bafo a morte
?
?

E no entanto
Esperança?
Esperança: talvez amanhã.

publicado por Buraco Negro às 22:23
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o Buraco


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