.As luzes da cidade
Deturpam a dura mater da noite
Confundem-me os sentidos e deturpam-me os desejos
Linda na sua decadência cosmopolita
Feita de rostos, de chagas e suores devolutos
No entanto, desejo a cidade vazia
Tecnicamente morta
Desejo as vielas da solidão
Abrigar-me da réstia de luz emanada por candeeiros dormentes
Uma réstia furtada ao fundo de uma garrafa de absinto
? Porque sofro, porque é que me sinto
? Porque me afogo no dealbar do pensamento
Subo a escadaria húmida operando um retrocesso
Faço do percurso um singular processo
Uma desculpa protocolar
Repito-me pelos gestos e pelos pensamentos
Olho-te com geada no olhar
Percorro-te antes de te abandonar
Para sempre contida em mim
Na serena consolação daquele olhar.
.Nestas ruas por onde ando
Onde explodes sem avisar
Em brilhos de uma cor que não consigo almejar
Numa cor que vislumbro sem poder tocar
Nesta cidade suja
De Cinzento cor betão
Nestas ruas anónimas
Sou mais eu
Mais solidão
Não quero saber para onde vou na minha embriaguez
Não quero saber se é esta a minha vez
Estou onde estive num sonho
Estou dentro do interior de ti
Vesti-te meu anjo
Roço a minha carne em toda a tua
Sou todo dentro de ti
Nesta cidade deserta
Onde me perco para te alcançar.
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