. Há luz estilhaçada
nas paredes do quarto
Na hora da penumbra
Pauso a respiração e espero
Quando os trâmites da razão
são um rio revolto
Procuro os teus lábioS no vendaval dos meus.
.Na falta de inspiração
Escavo fundo até ao osso
Continuo até encontrar um fosso
[repositório subtérreo de mim]
No cais insurrecto
Estudo a anatomia da morte
As feições e congeminações
Os cortes, recortes e iluminações
Dói-me este espaço vazio
Cúbico e rábico
Desespero sustido
Apático e ático
Na memória minha
Carne rasgada com uma lâmina espelhada
Inversa purificação
De porta fechada
Ao parar do coração
A pele fica gelada
[E] cessa a putrefacção.
.Nos ventos lentos
Que arrepiam a cidade
Viajam os pedaços últimos de ti
Perdidos e achados para sempre
No fim de tarde que se afasta
Respiro até ao fim partículas escassas de ti
Arrastando a tua morte até ao fundo da minha
Adivinho-te pelas estrelas
Imagino um sorriso, um abraço
Tão verdadeiros como a mentira de não os ter
Procuro cicatrizes profundas
Onde possa escrever a minha dor
Germinando-a no sangue que morre até ao coração.
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