.Saudade
Sol escorre até se abrigar nas agruras do mar
Um gesto tingido por agonia
Uma lágrima banhada pelo sol esparso
Uma lâmina apontada aos primórdios da dor
Nada mais ser que a cinza que perdura entre as estrelas
O pó que banha a imensidão
Só
Solidão
Acordar
Erguer-me para cair outra vez
Mostra-me tudo o tens no teu olhar
Da doçura da candura
Ao sal que perdura.
.Sal que me percorre as veias
Rumo ao sul
S
Coração que bate pesaroso
Salgado
Mar temperado
Com mágoas
Crispado e revolto até ao fim
S
Pobre e frágil a barca
Que me serve de caixão
Suspenso
Atordoado
Num éter-salvação
S
Sal que transformas numa chaga
Este meu corpo degradado
S
Embala-me
Com a serenidade que precede uma tempestade
Devolve-me
Perene a florir liberdade.
.Outrora
N
Escorrem os dias
Desde que perdi o Norte
Corre um rio dentro de mim
Revolto e crispado
Onde perduram diluídos numa massa infinda
Os restos de mim
N
Recordo-me
Ergo pensamentos
Que se esvanecem dentro de mim
Luto, ergo-me e agito-me
Rio desgovernado que jaz na foz
N
Sento-me
Penso e recordo
A pureza translúcida dos olhos da minha Mãe.
.Os meus ossos
São um bosque de carvalhos enlutados
A chuva que cai
São águas revoltas
Que chovem do meu coração
Perdi a conta às noites em que me perco
Ansioso por te reencontrar algures nas pregas do tempo
Vagueio pela cidade que jurámos conquistar
Arrepio-me com a aragem que faz as folhas caídas voar
Estranho,
Assombração
Injecta-me uma faca rumo ao coração
Preciso de o sentir a rebentar
Com a força com que a tua mão outrora agarrou a minha
Sentir, talvez, a vida a brotar
Por entre espasmos
Tão belos quanto condenados
Sento-me a escutar o silêncio cantado pelos sonhadores
Nunca partas, jamais deixes de me atormentar.
.Engulo o suspiro
Esta estranha sensação
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