Olho a hipnótica lua, que balança entre dois estados extremos. A minha vida é uma metáfora de um ciclo lunar. A minha vida é feita de luz e de escuridão. Arrasto-me noites e noites sem fim à procura de um sinal de luz, olho-te e sinto que encontrei alguma. Perco-me na noite, mas sei-te sempre na escuridão a iluminar a escuridão do lado esquerdo ou direito (conforme o ponto de vista) da minha noite.
Caio de joelhos e pego com as minhas mãos numa porção de terra, daquela que me servirá de leito final e aquela que será o meu ventre de morte. Na terra há vida e há morte. Sinto a humidade familiar da terra, tal como sinto a familiaridade da tua presença.
Durmo e sinto a tua presença fantasmagórica na minha noite, sinto-te como luz e escuridão e sei-o agora és feita de luz e escuridão, de terra e de sangue, de vida e de morte. És como eu, transportas na ponta dos dedos a vida e a morte. Transportas beijos que me matam e dão vida.
É aqui nas profundezas do meu buraco que o breu é mais breu, é aqui que tu me fazes mais falta. Mas é aqui que tu estás sempre acredites ou não, apesar de estares aqui procuro-te de uma outra maneira. Será que te encontrarei? Sei que sim, tal como sei que no nosso sistema solar há nove planetas principais . Agora, estou com dúvidas, parece que o planeta associado ao inferno e à ausência de luz deixou de ser considerado um planeta principal. Como pode o sistema solar viver sem o seu inferno, como posso eu viver sem ti meu doce inferno?
Afinal há esperança!