.No final da tua vida translúcida
Numa nudez crua a cheirar a vísceras
Escondes o medo
Enterrando-o num fotograma de cadáveres de ti
Medo nos olhos certeiros e resolvidos de um velho
Embevecidos pelo soro quente da amargura
Diluída esperança negada com candura
Coluna vertebral estacada nalgum jardim
Despida de qualquer fruto resoluto
Membranas doces e mastigáveis
Engolidas entre tragos ásperos de vida
Nos terríveis ângulos agudos
Percorridos na tua dança ungida
Da qual recordarei para sempre o vermelho ferido desenhado pelos teus pés
Dos cemitérios vítreos por baixo dos nossos pés
Nascem cidades feitas do sal que se desprende dos ossos
Cristal doce que eterniza a beleza de uma ferida
Escutei as tuas histórias de desespero
Lá dentro encontrei as minhas
Como um só ressoamos pelas entranhas sujas de uma garrafa
O vapor calou-se e nunca mais te encontrarei
No teu pedaço ínfame de céu
Pulsa com a devida lentidão um abismo
Que invejo e toco sempre que te beijo
Quero todas as tuas dores
A faiscar num circuito fechado
Uma dor que me queime a partir de dentro de mim.
Quero aspas orientadas segundo um ângulo favorável
Com uma fúria repetida a cravarem-se no sentido estrito do meu coração
Eis o teu medo
Pós-êxtase, degredo, folhas caídas e Novembro.
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