.No fundo da garrafa
Dormem partículas de sonhos dispersos
Conservados num licor que escorre dolorosamente para os copos
Sequiosos de sofrimento
Nas tuas asas quero voar
Aturdido e perdido sem esperança de uma salvação
Que não procuro
Que me apraz recusar
Dai-me a beber aquilo que me é doce
Mesmo que tenha a cor da amargura
Dai-me o veneno dos séculos
Adormecidos numa garrafa
Maturados para lá da podridão
Tenho medo de regressar a mim
De estremecer e acordar o sono que em ti se deleita
Um sono licoroso e pesaroso a reverberar canções feridas
Xaradas metafísicas e quânticas que nunca saberei responder
Ilhas espoletadas num cortinado azul
Ilhas que são estrelas
Que afinal são pedacinhos de luz num pulsar enevoado
Ditirambos num ressoar trágico inauguram lugares da mente que desconheço
Uma batalha de cócegas que não sabem se são partículas ou ondas
Sangue venoso acariciando uma pele
Que estala como folhas de Outono
Sangue a sequioso de um copo de vida
Abandonado num corpo que se transforma em pó pelo lado dos ossos
A força das copulações
Encravada rosto
Semeada esperança numa pegajosa ejaculação
Dentro de um athanor de carne quente e rosada
Todo eu sou chamas
Recebidas no âmago de gotas de água redondas
Roubadas aos céus revoltos do início
Rasgo crateras nos céus do córtex
Em busca de caminhos pesarosos e dolorosos
Esgares lentos de salvação
Desejo absurdo pela danação
Nas arcadas do tempo consumido
Vive a criança opaca e feita de ossos brancos e dolorosos
Gostava de lá me sepultar
Incoerentemente desdenhar um abrigo
Que hoje sei está perdido.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.