Quinta-feira, 14 de Fevereiro de 2008
.Espelho
Uma mentira servida numa bandeja de prata
Alinhada com a vertical
[pergunto-me se a verdadeira ou a aparente]
Uma lâmina acorda-me a cara
Arranca o sangue do seu sono submerso
Deixando-o, no entanto, imerso sob os muros íngremes que são a pele
Ainda me dói a lucidez da luz
Principalmente, a que é esculpida pelo espelho
Renegada, disforme e suja de mim
Olhos engolidos por duas insones sombras
De um negro húmido e cristalino
Escorrem-me rios da alma
Levando-me a cada evaporação
Perfumo a cara com um sorriso
Invoco aos músculos trémulos alguma acção
A suficiente para num sorriso esconder a solidão.