Dedicado a Luiz Pacheco, embora aposte que ele quer que eu me foda.
.[A] Escuridão escorrega dos céus de fim de tarde
Ruas presas ao anonimato repletas de um vazio construído de corpos desnutridos de sonhos
Ausência de ossos que sustentem a mais ínfima esperança
No panteão da vida a corrosão transforma memórias em pó espalhado-o aleatoriamente pelo vento
Acordas e nada resta de ti, nada te sustenta
Divago por encruzilhadas de ruas de uma forma confusamente desenvolta
Divago como se soubesse exactamente como me perder
Os candeeiros com a sua luz baça não passam de uma forma tétrica da luz
Escolho um canto recôndito para mijar
O mijo mistura-se com a réstia de chuva apodrecida pelo chão da cidade
Às tantas formam um pequeno lago deveras particular: detritos angustiados de mim na sujidade bolorenta da cidade
Cuspo lantejoulas de sangue
Doem-me os pulmões, constantemente triturados por este ar indecoroso
À noite a cidade é a espasmos deliciosa
A solidão invade-a, o vento faz bailar pedacinhos de fuligem provenientes da combustão dos sonhos
Caminho-a para me esconder de mim, dos outros, sei lá do quê
Caminho mas não posso fugir ao lodo em que imprimo os passos, que me manipula os passos, que me prende
Árvores de princípio de Inverno ossos daquilo que foram na primavera
Penetram bem fundo no lodaçal que me sustenta
Aliás, alimentam-se e fodem com ele
Fodem que nem uns danados e provocam espasmos telúricos mesmo por baixo do lodaçal
[lençol]
Aqui estou eu sem nada e para nada
Ausente e não totalmente alheado
Amedrontado por viver
Tremem-me as pernas e quase me sucumbem as carnes
Sou
Quase prostrado
Mas não é desta que me deitarei na posição fetal neste chão, neste lodaçal.
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