Domingo, 23 de Dezembro de 2007

Pré-câmara de uma biofatia

.Sem nome

Incógnito, esquecido no livro do Universo

Cuspido do ventre primordial

Amaldiçoado com o signo de tudo aquilo que é seminal

 

Brutalmente desmamado daquele contínuo de sangue que me ajudava a elevar-me

Ruínas destruídas

Construídas sobre os espasmos da vida

Uma batida dolente animada por reverberações vindas do crepúsculo elementar do nada

 

Corpo rasgado

Penetrado por carnes inundadas de almas pútridas e desnutridas de vida

 

Procurei por todo o lado

Um cintilar de ti

Oculta gnose

Atalho para o inferno

[Se tomado de fora para dentro]

Recuso a tua verdade dual, confronto-a com a minha ausência de sémen factual

 

Vulva difusa

Pré-câmara de uma foda celestial

Que culminará em espasmos libertadores de detritos cósmicos

 

Morrer e foder pela parte de dentro

Sentir a luz a ser desviada na sua trajectória

A ser sugada pelo âmago interno de ti

Luz roubada e recriada numa singularidade crua que sentes sem vislumbrar

 

Cores roubadas

Esborratadas numa paleta que podes manipular

Usa a tinta, pinta nas paredes e escreve animado pelo teu instinto animal

Que caça e mata para saborear a carne, usando o sangue com um mero intermediário

 

Refractário orgasmo que arrefece nos pulmões

Triliões de unidades fundamentais a chocarem, a partilharem e a recriarem energia

A temperatura é um espelho daquilo que me ferve a carne e faz gemer o intelecto

 

Acordado para a chapada que é o mundo

Roubado à quentura confortável e imóvel

Privação corporal, ressaca de um corpo roubado e enganado

A um qualquer lugar entre as estrelas, ou a um sucedâneo oculto das mesmas

 

Morte, morte, morte

Tentar separá-la da vida

Concebe-la como entidade una e indivisível

De suprema liberdade individual

Retumbar em insucesso

Sabe-lo e continuar a busca dia-após morte

 

Libertar pedaços gotejantes de mim

Transmuta-los em palavras sem perder o instante mais puro, perene e verdadeiro das coisas

Ser o supremo dos mentirosos

Tapar as orelhas à verdade que me teima em reclamar

A verdade a balançar dolente e dormente até ao limiar

Amordaço-me para não gritar toda a sujidade do Universo

Esforço-me, como me esforço, para ser subliminar

 

Encontro e remexo

Palavras e ideias que possam significar e ser o fim das coisas

Deste rol de palavras orquestradas para serem difusas e vagas na sua potência

Esforço-me por me concentrar num fim, na última das tais

Na súmula, sempre súmula, daquilo que tento escrever

 

Escavo até não restarem as unhas

Continuo a escavar até atingir o ponto do sangue

Até quebrar a fina e estreita membrana que me separa do mundo

Escavo fundo, cada vez mais fundo sabendo que estou quase a encontrar

Escavo o buraco e perco a influência da luz

[Não sei se me deva orgulhar disso]

Escavo e continuarei a escavar.[..]

 

 

música: "Essence" dos Enslaved

publicado por Buraco Negro às 19:40
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