.Sem nome
Incógnito, esquecido no livro do Universo
Cuspido do ventre primordial
Amaldiçoado com o signo de tudo aquilo que é seminal
Brutalmente desmamado daquele contínuo de sangue que me ajudava a elevar-me
Ruínas destruídas
Construídas sobre os espasmos da vida
Uma batida dolente animada por reverberações vindas do crepúsculo elementar do nada
Corpo rasgado
Penetrado por carnes inundadas de almas pútridas e desnutridas de vida
Procurei por todo o lado
Um cintilar de ti
Oculta gnose
Atalho para o inferno
[Se tomado de fora para dentro]
Recuso a tua verdade dual, confronto-a com a minha ausência de sémen factual
Vulva difusa
Pré-câmara de uma foda celestial
Que culminará em espasmos libertadores de detritos cósmicos
Morrer e foder pela parte de dentro
Sentir a luz a ser desviada na sua trajectória
A ser sugada pelo âmago interno de ti
Luz roubada e recriada numa singularidade crua que sentes sem vislumbrar
Cores roubadas
Esborratadas numa paleta que podes manipular
Usa a tinta, pinta nas paredes e escreve animado pelo teu instinto animal
Que caça e mata para saborear a carne, usando o sangue com um mero intermediário
Refractário orgasmo que arrefece nos pulmões
Triliões de unidades fundamentais a chocarem, a partilharem e a recriarem energia
A temperatura é um espelho daquilo que me ferve a carne e faz gemer o intelecto
Acordado para a chapada que é o mundo
Roubado à quentura confortável e imóvel
Privação corporal, ressaca de um corpo roubado e enganado
A um qualquer lugar entre as estrelas, ou a um sucedâneo oculto das mesmas
Morte, morte, morte
Tentar separá-la da vida
Concebe-la como entidade una e indivisível
De suprema liberdade individual
Retumbar em insucesso
Sabe-lo e continuar a busca dia-após morte
Libertar pedaços gotejantes de mim
Transmuta-los em palavras sem perder o instante mais puro, perene e verdadeiro das coisas
Ser o supremo dos mentirosos
Tapar as orelhas à verdade que me teima em reclamar
A verdade a balançar dolente e dormente até ao limiar
Amordaço-me para não gritar toda a sujidade do Universo
Esforço-me, como me esforço, para ser subliminar
Encontro e remexo
Palavras e ideias que possam significar e ser o fim das coisas
Deste rol de palavras orquestradas para serem difusas e vagas na sua potência
Esforço-me por me concentrar num fim, na última das tais
Na súmula, sempre súmula, daquilo que tento escrever
Escavo até não restarem as unhas
Continuo a escavar até atingir o ponto do sangue
Até quebrar a fina e estreita membrana que me separa do mundo
Escavo fundo, cada vez mais fundo sabendo que estou quase a encontrar
Escavo o buraco e perco a influência da luz
[Não sei se me deva orgulhar disso]
Escavo e continuarei a escavar.[..]
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