Escrevo acompanhado pela solidão das palavras. Escrevo ao sabor do incerto. Sou a incerteza do dia de amanhã. Passeio pela minha mente, procuro razões, ideias, ânimo e esperança. Encontro tudo isso arrumado dogmaticamente num canto esquecido e poeirento. Dias e dias de reflexões corporizadas na inacção e na bonomia das boas intenções. Voragem do tempo: curto e pleno de hipóteses.
É com deleite que observo a noite. Bela e parcialmente velada pelo nevoeiro. Invoco-me na noite, para quase me encontrar na certeza da escuridão, na incerteza do nevoeiro. Diálogo estranho, na perspectiva de outrem um monólogo. Ouço palavras fraternas, verdades incómodas e prenúncios de fim. Lua: em dinâmicos ciclos, em constante emanação de energia. Diálogo estático, prenúncio de monólogo. Assustado e só na noite, violentamente espancado pela clarividência, acordado de um sono de dogmas que conduziria a uma morte deselegante.
Faço um esforço para me compreender. Admiro quem o tenta fazer, pois eu próprio começo a ter vontade de desistir de o fazer. Escrevo a minha verdade, aquela que podeis tomar como vossa, que podeis enxovalhar, que podeis escarnecer … Sou um litro de água despejado num oceano de verdade. Diluo-me na verdade e evaporo-me na mentira. Dispo-me de palavras e de apetrechos linguísticos, observo-me na minha nudez… Guardo as inquietações para mim ou escondo-as em palavras para as mentir e velar ao invés de as gritar até jorrar sangue da minha garganta.
Tenho escrito. Que pena não as ter escrito em papel para as queimar de seguida. Que deleite o meu exibi-las aqui como hino a não sei bem o quê. :-)