.Arde em mim um fogo-fátuo
Que me rouba as noites e
Tolda o pensamento
Nas ruas mais frias da minha mente informe
Chispas de carne num cantar insone
Rumor cego que se inflama nos pulmões
Um grito invertido que me sulca por dentro
Crisálida de madeira envernizada
Por mim criada e incendiada
Labaredas em voo incendiário
Desordem da qual sou signatário.
.No final da tua vida translúcida
Numa nudez crua a cheirar a vísceras
Escondes o medo
Enterrando-o num fotograma de cadáveres de ti
Medo nos olhos certeiros e resolvidos de um velho
Embevecidos pelo soro quente da amargura
Diluída esperança negada com candura
Coluna vertebral estacada nalgum jardim
Despida de qualquer fruto resoluto
Membranas doces e mastigáveis
Engolidas entre tragos ásperos de vida
Nos terríveis ângulos agudos
Percorridos na tua dança ungida
Da qual recordarei para sempre o vermelho ferido desenhado pelos teus pés
Dos cemitérios vítreos por baixo dos nossos pés
Nascem cidades feitas do sal que se desprende dos ossos
Cristal doce que eterniza a beleza de uma ferida
Escutei as tuas histórias de desespero
Lá dentro encontrei as minhas
Como um só ressoamos pelas entranhas sujas de uma garrafa
O vapor calou-se e nunca mais te encontrarei
No teu pedaço ínfame de céu
Pulsa com a devida lentidão um abismo
Que invejo e toco sempre que te beijo
Quero todas as tuas dores
A faiscar num circuito fechado
Uma dor que me queime a partir de dentro de mim.
Quero aspas orientadas segundo um ângulo favorável
Com uma fúria repetida a cravarem-se no sentido estrito do meu coração
Eis o teu medo
Pós-êxtase, degredo, folhas caídas e Novembro.
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