Domingo, 19 de Outubro de 2008

Crisálida de madeira envernizada

.Arde em mim um fogo-fátuo
Que me rouba as noites e
Tolda o pensamento

Nas ruas mais frias da minha mente informe
Chispas de carne num cantar insone
Rumor cego que se inflama nos pulmões
Um grito invertido que me sulca por dentro

Crisálida de madeira envernizada
Por mim criada e incendiada
Labaredas em voo incendiário
Desordem da qual sou signatário.


publicado por Buraco Negro às 18:29
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Domingo, 14 de Setembro de 2008

No final da tua vida translúcida

.No final da tua vida translúcida

Numa nudez crua a cheirar a vísceras

Escondes o medo

Enterrando-o num fotograma de cadáveres de ti

 

Medo nos olhos certeiros e resolvidos de um velho

Embevecidos pelo soro quente da amargura

Diluída esperança negada com candura

 

Coluna vertebral estacada nalgum jardim

Despida de qualquer fruto resoluto

 

Membranas doces e mastigáveis

Engolidas entre tragos ásperos de vida

Nos terríveis ângulos agudos

Percorridos na tua dança ungida

Da qual recordarei para sempre o vermelho ferido desenhado pelos teus pés

 

Dos cemitérios vítreos por baixo dos nossos pés

Nascem cidades feitas do sal que se desprende dos ossos

Cristal doce que eterniza a beleza de uma ferida

 

Escutei as tuas histórias de desespero

Lá dentro encontrei as minhas

Como um só ressoamos pelas entranhas sujas de uma garrafa

O vapor calou-se e nunca mais te encontrarei

 

No teu pedaço ínfame de céu

Pulsa com a devida lentidão um abismo

Que invejo e toco sempre que te beijo

 

Quero todas as tuas dores

A faiscar num circuito fechado

Uma dor que me queime a partir de dentro de mim.

Quero aspas orientadas segundo um ângulo favorável

Com uma fúria repetida a cravarem-se no sentido estrito do meu coração

 

Eis o teu medo

Pós-êxtase, degredo, folhas caídas e Novembro.

 

música: "The Sinking Belle (Blue Sheep)" dos SunnO))) & Boris

publicado por Buraco Negro às 00:21
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Sábado, 12 de Janeiro de 2008

Geografia da desolação

.Pele granítica
Lascada pelas mãos difusas do tempo
Talhada entre agruras e dores de parto

Rugas fundas lavradas na pele
Por arados feitos de um material sucedâneo do aço
Mas que não encontra eco no mundo material

A Geografia da desolação tem traços de irreal
Apesar de ser firme e concreta nos corações das mulheres e dos homens
Corações que lentamente se transformam em granito denso
Tendente a parar de bater
A alimentar de espasmos os ecos da solidão

A rosa dos tormentos e
Os seus pontos mortais
Representação de uma geografia sórdida, sardónica e letal

Olhos que não conhecem as letras
Nem as mentiras circunscritas
Ensinadas por epítomes do saber
Que propagam a geografia sub-humana

Onde fica o coração dos Homens
Depois de ser empurrado e desolado para os lados da solidão
Onde subscrever uma morte mais digna e letal

Esqueletos de granito erguidos pelos homens
Sepulcros supra-térreos de memórias íngremes
Entregues à mais geográfica desolação
.

publicado por Buraco Negro às 23:00
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o Buraco


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