Qualquer álbum dos Deftones a partir do cerebral White Pony (incluindo este) poderia figurar nas próximas linhas. Este último registo do colectivo norte-americano é a prova cabal, quanto a mim, da injustiça de que foram alvo ao terem sido colados a um fenómeno produtor de algumas das maiores aberrações musicas de que há memória. Nesse meio sempre vi estes gajos como uma espécie de David Lynch ao invés das banalidades sucedâneas e comparáveis aquelas produções cinematográficas de cariz comercial e pedante. Porquê? A isso tentarei responder no ulterior parágrafo.
A música dos Deftones é portadora de uma violência sensual e de uma dualidade algures entre o histerismo mais gritante e profunda depressão. Chino Moreno o vocalista e , também agora guitarrista, é um performer com um estilo muito próprio e talvez odiável, mas que a mim me arrepia e leva para estados mais além, se bem me compreendem. Da berraria juvenil à melancolia lancinante, assim é o espectro de personagens que compõe o espectro vocal do Chino.
Musicalmente, as boas referências estão lá: Sepultura, Pantera, mas também The Cure e Depeche Mode. É verdade! Têm mais tempo de actividade que os Korn de quem os consideraram seguidores?!
Particularizando, este disco é fruto de tempos conturbados para a banda, zangas, divórcios, abusos de drogas, produtores chateados, etc. O disco não desmente nada do que se afirmou, berra-o, acalma-o, expurga-o e chora-o num silêncio estridente, … Desde a revoltada Hole in the Earth, passando pela comovente despedida que é Xerces, acabando num encontro com um peculiar personagem feminino. Belo, frágil, maravilhoso, cortante, sei lá...
Maravilhem-se!
.Incógnito
Havido de noite
Para te sonhar
Para te encontrar para lá dos meus braços
Um frio cadavérico
Como melhor definição de mim
Um sorriso tétrico na cor dos teus lábios
Gemem as carnes
Procuro fazer disto arte
Encontrar tino nesta maldita sorte
Fortuna oportuna e de fino recorte
Grita
Morre da mesma maneira leda que eu
Erra pelas noites
Perdida em encruzilhadas estáticas
Chora as tuas lágrimas dramáticas
Consome-te como eu
Flutuas por vapores etílicos
Com que adormeço o sangue
Sem coragem para o sufocar
Para o canto da morte fazer ressoar.
Após meses de interregno, por preguiça mental minha, regresso a esta espécie de cantinho que reservo no blogue para escrever algumas palavras acerca de música.
Desta feita, vou tecer alguns comentários ao primeiro álbum dos Process of Guilt [PoG] de seu nome Renounce. Ouvi-os pela primeira vez no Myspace após ter lido um artigo sobre os mesmos. Fiquei apaixonado por uma música desse mesmo álbum de seu nome becoming light, nome que tão bem define a banda…
Musicalmente, podem definir-se como uma banda de Doom Metal com som moderno, algo a que se convencionou chamar post-Doom. Em algumas palavras pode definir-se o som como arrastado, lento, melancólico e norteado por explosões seguidas por momentos de acalmia e vice-versa. Assim são, em parcas palavras, as 7 faixas que nos povoam de uma escuridão que comporta e admite a luz. É uma experiência deliciosa ouvir este disco na penumbra, na reflexão, pelas noites dentro. As letras são o reflexo da música, um jogo entre espasmos de luz grunhidos na mais eterna escuridão.
Um disco, uma recordação de momentos menos clarividentes da minha vida. Uma obra de arte ascética, que serviu e serve de catarse.Um disco fácil? Não de todo, é doloroso e exige carinho e dedicação, mas o que se consegue na vida sem sofrimento?
MARAVILHOSO!
.Feridas Egocêntricas
Sulcadas entre a alma e a carne
Temperadas por lágrimas
Lâminas tornadas arados
Lavrando na pele
Repositórios de sementes
Que criam raízes
A brutal força
Erroneamente despontará
Pelos confins de mim
.Os gigantes alimentam-te o sono
Abissais montes são a proa
Que navega por vendavais soprados por sonhos
Os colossos que são as tuas mãos
Talhadas da pedra
Embrutecidas na guerra
Supremo
Ainda assim vassalo
Prostrado nas margens do Letes
Lágrimas
O único sinal de vida
Que palpita nos teus escombros
Ruína e derrota
Verte a tua humana sapiência
Adormece com ciência
Cume transformado em abismo
O Nada
Como última máscara da vida.
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